24 de março de 2010

O Dragão de Trou Balligan

A história a seguir foi retirada do livro; "Jogos para atores e não atores" de autoria de Augusto Boal(1931/2008)que atualmente estar sendo a leitura dos meus dias tempestuosos, e recomendo...!

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Conta-se que na Normandia, França, havia na Idade Média uma princesa belíssima, riquíssima herdeira de um povoado chamado Trou Balligan. Ali vivia também um dragão feroz e malvado, que devorava os jovens e, sobretudo, as jovens mais bonitas. A juventude de Trou Balligan corria o risco de desaparecer completamente, quando se soube que o dragão havia proposto um pacto: Se a princesa concordasse em se entregar, ela própria, à voracidade dragonina, ele abandonaria o feudo, indo espalhar seu terror em outras regiões do país. Ao tomar conhecimento dessa proposta indecorosa, a princesa, querendo salvar seus súditos, aceitou, magnânima, o sacrifício da sua vida: seria devorada pelo dragão. Seus súditos, comovidos, recusaram a oferta, porém a princesa, numa bela noite chuvosa, decidiu-se a agir sozinha e salvar o seu povo, e foi a caverna da besta, entregar-se de livre vontade.


O dragão, feliz, veio recebê-la à porta, como convinha a uma princesa, sobretudo esta, tão digna e generosa.

Antes de devorá-la, o famélico monstro pediu-se que se despisse, pois tinha medo de se engasgar com tantas sedas, brincos, colares, e ouropéis. Quando a viu completamente nua, seus olhos saltaram literalmente de suas órbitas, tão esplendorosamente bela era a jovem. Corpo perfeito, e ele ficou momentaneamente cego com os globos oculares pendurados pelos nervos óticos, como os olhos de caranguejos. Considerando-se que um dos maiores prazeres da gastronomia consiste precisamente em se admirar o prato antes de comê-lo, o dragão decidiu adiar a refeição até que seus olhos retornassem (se é que isso seria possível) aos seus devidos lugares. Soube-se então, no povoado, do gesto heróico da bela e estóica princesa, e os camponeses, seus súditos, decidiram salvá-la.

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