Felipe Cordeiro começou a tocar violão ainda garoto. Logo passou para o piano. Na coleção de discos, medalhões como Edu Lobo e Baden Powell. Filho de músico, o destino do menino era carta marcada. “Na minha adolescência, escutava muito a tradição da música popular brasileira, aquela dos anos 60, 70. Então a minha música era muito comportada e seguia esse cânone. Mas eu sempre fui inquieto, só que não conseguia desabrochar toda essa inquietação na minha obra”, diz Felipe. Dessa tal cuíra criativa, surgiu um os discos mais badalados da nova safra paraense.
O aguardado “Kitsch Pop Cult” foi lançado com pompa mês passado na terra da garoa e pôs os paulistanos para dançar. “Foi incrível. As pessoas começaram tímidas e no final do show, mesmo sendo num teatro, as pessoas se levantaram e virou um baile. Apesar de uma chuva bem forte que caiu naquele dia, o público compareceu e me surpreendeu”, comemora Felipe, que nesta sexta faz sua grande festa na Praça do Carmo, com direito a convidados especiais. Pio Lobato, Félix Robatto, Pardal, Diego Xavier e Gang do Eletro também sobem ao palco do baile de Cordeiro. “Queria que o lançamento fosse uma grande homenagem a Belém e à música feita no Pará. Para isso, convidei artistas que são referências para mim e escolhi um dos lugares que tenho mais carinho na cidade, a Praça do Carmo. A expectativa é das melhores, tomara que não chova, mas paraense não é tapioca, né ?!”, brinca.
E não faltam razões para celebrar o lançamento do disco. A nova cria, segundo álbum solo de Cordeiro, acionou uma metamorfose no rapaz. Antes, trajado sempre com discrição, trazendo seu afinado violão em punho, ao lado de jovens talentos paraenses, Felipe era conhecido como compositor e instrumentista, e já conquistara seu espaço por trás da coxia: nos últimos tempos, se tornou requisitado diretor musical de artistas contemporâneos e parceiros, como Arthur Nogueira e Aíla Magalhães. Mas ainda era pouco.
“Eu sentia uma ansiedade. Havia a vontade de trilhar um caminho de artista combativo, influente na cultura e não só na beleza do cancioneiro”, diz Felipe. Daí veio a faculdade de filosofia e o teatro. Com as ideias fervilhando, Felipe decidiu que era hora de trazer para perto o que era seu. Filho de Manoel Cordeiro, expoente da lambada e do brega oitentista, o herdeiro se apropriou dos acordes suingados do pai, aliou ao carimbó e à guitarrada. Do Caribe, inevitável fonte musical paraense, buscou a surf music e a cúmbia. Como cereja do bolo, pitadas de reggae, música eletrônica e a vanguarda paulistana. Para o “voialà!” só faltava mesmo o rapaz se arriscar no microfone. “Eu nunca tinha tido essa vontade, embora gostasse de artistas que não fossem cantores, como Tom Zé, Itamar Assumpção, Arnaldo Antunes, que de alguma forma encontraram uma maneira de cantar sua música. O teatro foi o que definitivamente me deixou à vontade para subir num palco e cantar. Por isso que a carreira deu uma guinada”. E que guinada. Agora de bigodinho teatral e roupas extravagantes, Felipe eletrificou seus acordes. No último ano, foram diversos festivais pelo Brasil, entre eles, o conceituado RecBeat, que revela os artistas ponta-de-lança do cenário independente. Na tevê, programas globais. Publicações nacionais - entre elas, Folha de São Paulo, Estadão, Jornal da Tarde, Billboard Brasil e Rolling Stone - não pouparam elogios ao novo disco de Felipe.
‘Eu sempre quis estar integrado ao país”
“Para mim isso tem um gosto muito novo. É como se eu tivesse passado por um longo tempo de aprendizado, embora eu ainda continue aprendendo, mas é como se esse período todo de fazer canções, de participar de festival de canções, fosse uma grande escola”, diz o artista, com agenda recheada de apresentações pelo país, naquilo que seria um boom que a música paraense tem provocado pelo Brasil.
“As pessoas já têm vontade de ouvir música paraense – que significa música produzida no Pará. Elas já consomem, já escutam, já vão atrás porque já conheceram Cravo Carbono, já conheceram Gaby, já conheceram La Pupuña. A música do Pará já está muito integrada a esse novo momento da música brasileira” garante o músico, que fala com entusiasmo dos bons ventos que sopram sua carreira. “A receptividade do disco foi rápida e vigorosa. É bom também viajar e encontrar as pessoas cantando as músicas, como foi o caso do show que eu fiz com Tulipa Ruiz, semana passada em Belo Horizonte, cantaram todas e pediram bis duas vezes”.
E há mais pela frente. Em maio, Felipe embarca para Madri ao lado de artistas paraenses para um show coletivo na cidade espanhola. Final de junho, a trupe faz repeteco do elogiado show Terruá Pará no Rio e São Paulo. Na agenda solo, ainda este mês, um encontro na Livraria Cultura na terra da garoa com artistas paulistas, entre eles o compositor e professor Luiz Tatit, referência declarada no trabalho de Felipe. “Kitsch Pop Cult” ganha ainda os palcos das cidades de Goiânia, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e no Marajó. “Eu sempre quis ser um artista integrado ao país. A questão nunca foi ‘ser famoso’, mas integrado à música do meu país. Quis chegar em Recife, em São Paulo, e me sentir integrado à música brasileira”, diz Felipe. Tarefa cumprida.
PARTICIPE
Show de lançamento do disco Kitsch Pop Cult, de Felipe Cordeiro, hoje, a partir das 20h, na Praça do Carmo. Participações: Pio Lobato, Pardal, Felix Robatto e Gang do Eletro. DJs: Bernardo Pinheiro, Waldo Squash, Arede e Kauê. Entrada franca. Realização: Pommelo Produções Artísticas e Se Rasgum Produções.
Informações do site : Diário do Pará
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