24 de janeiro de 2014

O grande desastre aéreo de ontem.

Para Cândido Portinari
De: Jorge de Lima

Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma flor para a noiva, abraçado com a hélice. 
E o violinista em que a morte acentuou a palidez, despenhar-se com sua cabeleira negra e seu estradivárias. Há mãos e pernas de dançarinas arremessadas na explosão. 
Corpos irreconhecíveis identificados pelo Grande Reconhecedor. 
Vejo sangue no ar, vejo chuva de sangue caindo nas nuvens batizadas pelo sangue dos poetas mártires. Vejo a nadadora belíssima, no seu último salto de banhista, mais rápida porque vem sem vida. 
Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas, como se dançassem ainda. 
E vejo a louca abraçada ao ramalhete de rosas que ela pensou ser o paraquedas, e a prima-dona com a longa cauda de lantejoulas riscando o céu como um cometa. E o sino que ia para uma capela do oeste, vir dobrando finados pelos pobres mortos. 
Presumo que a moça adormecida na cabine ainda vem dormindo, tão tranqüila e cega! 
Ó amigos, o paralítico vem com extrema rapidez, vem como uma estrela cadente, vem com as pernas do vento. 
Chove sangue sobre as nuvens de Deus. 
E há poetas míopes que pensam que é o arrebol.


Fonte da Imagem da Internet: 

Sobre Linha:
Recordo incessantemente o modo condizente desse texto, quando foi apresentado a mim: - Sobre uma cama. 
Dois corpos.
Um olhar que se contradizia ao meu. 
De forma singela, bonita e com vestígio de uma saudade de velhos tempos. 
*Foram 3 encontros! 

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