Só existe uma coisa pior do que sentir saudade: não poder
mais senti-la.
Para tudo há um tempo! Houve um tempo para te amar e outro
para te esquecer... E estes dois tempos já se foram e não tenho mais o direito
de sentir tua falta. Mas quando se trata do meu amor por ti, eu talvez tenha
aprendido a conjugar os verbos num tempo estranho. Um tempo que não é
infinitivo, mas infinito. Um tempo verbal que não habita no indicativo nem no
subjuntivo... Que perdura no mais que perfeito... Um tempo chamado para sempre.
Pois para sempre terei direito de sentir saudade tua quando
eu ler um poema da Bruna Lombardi ou quando ouvir uma música do Texas.
Neste tempo, não importa quantos amores tiveste depois de
mim, nem se estamos separados por passagens aéreas ou por olhos que fingem não
se encontrar. Pois este é um tempo invariável. Estático. O que foi nosso, para
sempre será.
As nossas lágrimas – haja o que houver – para sempre serão
nossas; e aqueles teus risos, eternamente meus. E para sempre sentirei saudade
das vezes que dormimos juntos.
E não importa se a última flor da orquídea caiu há meses e
teima em não nascer de novo. Ou se não sei por onde andas... Nem com quem
falas... Nem se realizaste teu sonho de conhecer New Orleans.
E lembrarás de mim para sempre quando entrares na locadora
de vídeo e te deparares com a foto de Ingrid Bergman sorrido ou toda vez que a
Scarlett O’Hara disser “amanhã é outro dia”.
Lembrarás de mim para sempre quando alguém recitar um poema
do Vinícius. Ou quando uma música da Nina Simone rodar nalgum playlist
desconhecido.
E, sem dúvida, lembrarás de mim em todos os teus futuros “eu
te amo”. Pois eu fui o primeiro a acreditar em ti. E lembrarás de mim quando te
fores para sempre para um lugar incógnito. E eu for embora fazer meu doutorado
no Rio, ou em Paris, ou em São Francisco, ou no Nepal. E nos apartamos não
apenas da vista... Mas nos perdermos no tempo, na vida, na poeira de que é
feita o cosmo.
Porém, mesmo separados, para sempre haverá dois amantes
correndo na Golden Gate, como vultos distantes, de rostos irreconhecíveis. Mas
estes dois amantes, infelizmente, não serão eu e tu. Porque, hoje, não posso
nem sentir saudade, quiçá sonhar com o frio cortante do qual prometi te
proteger... E tu a mim.
Neste tempo de não sentir mais saudade, aprendi que o
destino é repleto de cem portas que se abrem para mais cem portas. E lamento
que tenhamos nos perdidos nalguma dessas travessias e que o nosso para sempre
tenha se misturado com para sempres alheios. Mas fico na esperança de que um
dia encontremos o fio que Ariadne deixou no labirinto do Minotauro e consigamos
nos reencontrar. Noutro tempo mais feliz.
Ou torço para que, no final das contas, todas as portas
acabem levando para um mesmo lugar e nos encontremos de novo... Mais maduros.
Porque afinal não sabemos o que o destino nos reserva.
Enfim, neste labirinto de amores por ti. O meu sangue erra
de veia e teima em não entrar na porta onde está escrito “esquecer”. E para
sempre vou te amar. E para sempre vou te esperar...
Até o dia em que meu olho se fechar na treva e para eu renascer
noutra vida, como um pássaro, que cantará, noite e dia, te procurando por entre
as folhas verdes das árvores mais altas.
Até que esse pássaro morra... E renasça como outro bicho...
E a procura continue... E tudo comece de novo...
Para sempre.
Esperando por ti.
Postado por Saulo Sisnando
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