Eduardo da Amazônia de seu blog pessoal: eduardodaamazonia.blogspot.com.br
Hoje (25) inaugura o mais novo espaço de compras e
entretenimento de Belém/PA, o tão esperado “Parque Shopping”. Localizado na
Augusto Montenegro, a obra vem encantando moradores das margens da rodovia que
diariamente passam e vislumbram a beleza que está ficando o prédio que abrigará
esta mais nova oportunidade de consumo na Metrópole da Amazônia. Falando nisso,
onde mesmo fica este shopping?
Sua localização encontra-se ao lado de uma faculdade e a
entrada do Benguí, cujo bairro é conhecido historicamente não só pelo alto
índice de violência, como por sua resistência nas lutas sociais. Prova disso é
a conquista de transporte e as mobilizações por melhores condições de saúde
pública para a população deste lugar. Além disso, quem o conhece, sabe o quanto
ele é rico de manifestações culturais como toada, quadrilha, carimbó, capoeira
dentre outros, além das diversas igrejas e escolas que contribuem na formação
de crianças, adolescentes e jovens deste bairro.
Mas, o que aparenta é o quanto isto não está sendo levado em
consideração, em relação a responsabilidade social. Aliás, este termo vem mais
como adjetivo do que substantivo, como diria Leonardo Boff em um de seus
artigos sobre sustentabilidade. Se bem que a (in)gestão atual da Prefeitura de
Belém fez questão de esquartejar o Benguí, tornando bairro as comunidades do
Parque Verde e Mangueirão. Poderim até parafrasear os mesmos que queriam
dividir o (povo do) Pará: “mas, a divisão é para melhorar a situação”. Neste
bairro, melhorou em que? Até onde sei, os serviços básicos de saúde, educação e
segurança, por exemplo, ainda se encontram no Benguí.
Não adianta tapar o sol com a peneira sob esta estratégia
frustrada de reduzir o empobrecimento social, mudando nome de rua e de bairro.
Ninguém é besta para acreditar que isto nada mais é que uma segregação da
classe desfavorecida, em “guetos” (como estão fazendo com o popularmente conhecido
Bengola), para uma nova roupagem de um lugar discriminado.
Que tal perguntar para a vizinhança qual o endereço do
shopping, da faculdade, do curso de idiomas e dos demais prédios adjacentes?
Uníssonos irão responder que nada mais é do que o Benguí, mas que agora possuem
outro nome. Nada contra estas comunidades, até porque elas também sofrem com
este desrespeito, todavia esta estratégia separatista não só visa enfraquecer
as organizações sociais que têm atuação nesta área, consequentemente fragmentando
e fragilizando a organização de tais comunidades.
Claro que o shopping irá facilitar uma série de coisas, como
a proximidade com diversas lojas que se encontravam somente no centro da
cidade, mas isto não impede refletir sobre os impactos socioculturais,
políticos e ambientais que este provoca e que recebe pouca atenção merecida. O
rápido silenciar da mídia a cerca de algumas mortes em torno disto como a do
jovem Jackson Rodrigues, 24 anos, vítima de acidente de moto na avenida lateral
ao shopping ou do operário Nilson Lima, de 38 anos, eletrocutado durante a
realização de um serviço na obra, não deixa menos indignados(as). Podem até
arrancar a placa de boas vindas que ficava na frente do Benguí, não arrancarão
jamais a história e a cultura deste bairro é negar a identidade de seu povo.
Foto: Jorge Anderson.
Fonte: http://eduardodaamazonia.blogspot.com.br/2012/04/um-shopping-na-periferia.html
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