18 de julho de 2011

Diários de Parauapebas. Impressões Nº 2; Por Ivo Cardoso


IV ENCONTRO ESTADUAL DO MOVIMENTO LGBT DO PARÁ – PARAUAPEBAS de 07 a 09 de julho de 2011.

                Realizamos um encontro polêmico, instigante e construtivo, repleto de problemas e desentendimentos que no decorrer deste foram tomando proporções tão gigantes quanto um Tsunami amazônico.
                Estivemos diante de um impasse que até surpreendeu a todos. Ao chegarmos fomos comunicados pela organização do evento local, que ainda era necessário realizar alguns acertos no que se referia a infra-estrutura do evento, do encontro especificamente a questão da alimentação. Foi então chamada a diretoria do Movimento LGBT do Pará e alguns colaboradores que se propuseram em acompanhar as negociações referentes aos recursos destinados ao evento. Pelo que me consta e segundo me foi repassado havia um montante de R$15.000,00 para despesas com o Encontro e com a realização da Parada do Orgulho LGBT de Parauapebas, bem este seria o numerário do qual se dispusera em trabalhar a organização dos respectivos eventos, o IV Encontro Estadual do Movimento LGBT do Pará e a V Parada do Orgulho LGBT de Parauapebas. Para falar a verdade desconheço se este recurso foi totalmente utilizado em ambos os eventos, pois até o momento seja a organização local ou a diretoria do Movimento não foi realizada nenhuma prestação de contas que pudesse esclarecer de fato as contas referentes aos eventos realizados. Sabemos que eram recursos do erário público daí a necessidade de termos conhecimento do que realmente foi contabilizado como despesa nestes eventos.
                Segundo o que nos foi colocado é de que haveria um repasse de recursos diretamente aos fornecedores dos serviços para ambos os eventos, isto é os fornecedores iriam receber o pagamento imediatamente, concomitantemente aos serviços propostos. Porém, mais tarde verificou-se que a modalidade de pagamento para os fornecedores era através de empenho do governo local, isto é, seriam pagos após a realização dos serviços prestados. Isto causou aflição e revolta quer seja dos fornecedores, quer seja da organização local do evento.
                Toda esta situação foi comunicada aos participantes do Encontro que já se encontravam na Escola Chico Mendes, local que nos foi cedido para hospedagem naquele município. Daí então, ensaiou-se um protesto com cartazes, palavras de ordem e toda a manifestação típica dos movimentos sociais, que seria levada até a frente da Secretaria de Saúde do Município de Parauapebas, porém para evitarmos a exposição da organização local a uma retaliação por parte do governo recuamos e optamos por conversar com o gestor local a melhor maneira de solucionar estes problemas, lição esta já aprendida na oficina de Advocacy realizada no Encontro.
                Bem, o fato é que no frigir de tudo recordo que ficou eu e Daniele rodando pela cidade com a missão de convencer os gestores locais a necessidade de antecipar uma parte deste pagamento para alguns fornecedores no sentido de garantir a infra-estrutura necessária para ambos os eventos. Os fornecedores concordaram em receber o pagamento através de empenho, ao menos nos seria fornecida a alimentação do Encontro até o final deste, segundo compromisso feito com a organização do evento local. Porém ainda faltava a V Parada do Orgulho LGBT de Parauapebas, o que nos fez desdobrar durante o dia inteiro junto com Cristina Carmona para solucionar este impasse. Os fornecedores para os serviços da Parada insistiam na necessidade de receber algum dinheiro antecipado para pagamento dos operários que iriam montar palco e tudo mais. Acompanhei até onde pude com Daniele e finalmente já no período da noite tivemos a grata satisfação de encontrar com o Secretário de Saúde que se comprometeu em sanar as despesas mais imediatas do evento.
Senti a ausência neste momento da Diretoria do Movimento LGBT do Estado do Pará, que penso deveria ter acompanhado todo o processo de organização do evento, ao menos o IV Encontro Estadual do Movimento LGBT do Estado do Pará.  Não sei o que realmente aconteceu, mas acredito que faltou o cuidado de acompanhar os processos instalados para captação de recursos na realização do Encontro. Se havia processo de pagamento por  empenho, deveríamos saber os prazos, as condições, os serviços oferecidos, enfim seria muito bom estar a par de tudo. Acho inclusive que a Coordenadoria de Proteção a Livre Orientação Sexual não se omitiria em fazer a cobrança necessária para o desenrolar destas questões.  Ainda acredito na articulação do movimento social e governo no interesse do bem comum.
Bem, toda esta situação acima apresentada foi fundamental para os participantes do IV Encontro LGBT do Estado do Pará, pois todos estavam meio que desnorteados com a (des)organização do Encontro. Um encontro de formação política sem deliberações relevantes para os participantes deste. Porém nem todos concordavam com esta visão apresentada pelos membros da diretoria do Movimento LGBT do Estado do Pará. Desta maneira, conclamou-se uma assembléia das organizações que ali estavam presentes para tomar deliberações fundamentais na constituição do Movimento LGBT do Estado do Pará.
Uma assembléia que foi convocada por força do grito dos inconformados. Primeiramente a assembléia apresentou a necessidade de recompor a vacância que havia na Diretoria do Movimento LGBT do Estado do Pará, a secretaria geral e a coordenação de cultura, esporte e lazer. Depois a necessidade de aclamar a afiliação de novas organizações ao Movimento LGBT do Estado do Pará e ainda a nova sede para a realização do próximo encontro estadual.
Foi necessário vencer a resistência pragmática da Diretoria do Movimento LGBT do Estado do Pará em não recompor esta diretoria. Após uma acirrada discussão se havia quórum, legitimidade, consciência dos participantes daquele encontro nas conseqüências de suas decisões é que conseguimos encaminhar um processo de votação legitimado por toda a assembléia presente. Desta forma foi que elegemos o Sr. Rui Guilherme para a secretaria geral e logo após a Sra. Daniele Santa Brígida para a coordenação de cultura, esporte e lazer. Em seguida deu-se a eleição das novas afiliadas ao Movimento LGBT do Estado do Pará, foi eleição mesmo pois os delegados tiveram que votar uma a uma tais organizações, pensava que iríamos apenas aclamá-las como novas afiliadas, mas a construção do processo democrático exige mais que isso. Em seguida tivemos a eleição da nova sede para a realização do próximo encontro, concorreram Ananindeua e Castanhal. Saiu vitoriosa Ananindeua com o compromisso de realizar o maior e melhor Encontro para o Movimento LGBT do Estado do Pará.
Desenrolaram-se as oficinas que foram extremamente produtivas no sentido de criar documentos pertinentes na construção e implementação de políticas públicas para a comunidade LGBT do estado do Pará. Tive a oportunidade de participar da oficina de Ativismo e Liderança onde pude revisitar alguns conceitos já conhecidos mas que me pareceram extremamente novos na abordagem realizada pelos mediadores que ali se encontravam, Jocélio e Hugo que foram incansáveis em suas explanações, apresentações e falas muito bem colocadas, trazendo a tona a importância de trabalhar em equipe e na descoberta do potencial que temos enquanto lideranças. Fomos a equipe que mais se aprofundou nos estudos e atividades propostas, produzindo então dois planos um Plano de Ação Institucional e um Plano de Prevenção para HIV/AIDS, estes pareciam extremamente trabalhosos e complexos, mas que na medida em que íamos debatendo, conversando, dialogando saia ali uma proposta de grupo, coisa que é muito difícil de trabalharmos em nossas organizações. Ainda estou ansioso para ver o resultado final desta produção, pois aguardamos a divulgação do mesmo em nossos respectivos contactos eletrônicos e de rede virtual.
Tivemos ainda uma plenária final que foi um espetáculo de intolerância, desentendimentos e acerto de contas, mesmo assim conseguimos apresentar e aprovar algumas propostas vindas dos participantes do evento. Algumas questões que sempre acontecem e parece que agora estamos tomando atitudes concretas de encaminhamentos que até então eram só suposições. Identificamos, analisamos e avaliamos a necessidade de interferência na rede on-line da qual fazemos parte, algumas mudanças em seu funcionamento, como: a criação de um regimento que colocasse as condições claras e objetivas do que se pretende com esta rede de comunicação on-line, revisão, inclusão, exclusão ou não de seus atuais participantes isto é, revisão do cadastro atual. Superadas estas etapas propomos e aprovamos a exclusão do moderador da lista. Nos comprometemos em utilizá-la de forma responsável, segundo uma linguagem de rede humanizadora aonde todos estamos dispostos em construir um diálogo de articulação permanente com todos e todas para uma maior interação e comunicabilidade. Em seguida ainda propusemos a punição dos chamados participantes LGBTUR, pessoas que foram só para passear. Primeiramente vamos notificar a ONG responsável pela inscrição destas pessoas para que esta tenha conhecimento de tal punição, desta forma aprovamos que esta pessoa não participaria ao menos durante 01 ano de qualquer evento realizado pelo Movimento LGBT do Estado do Pará ficando sob a avaliação de uma assembléia do Movimento para seu retorno em qualquer outro evento realizado por este. Ao menos foi este meu entendimento, caso esteja errado favor me corrigir.
Participei como observador deste encontro por opção, pois segundo me consta realizei minha inscrição como delegado do Movimento LGBT do Estado do Pará, conforme orientações recebidas do Sr. Jair Morais na reunião realizada no espaço Tropical no bairro do Benguí em Belém, neste momento havia a necessidade de inscrever o maior número possível de pessoas para o Encontro, como forma de pressionar o gestor no fornecimento do transporte para o Encontro porém após esta reunião não tive acesso a nenhuma lista  que divulgasse a inscrição dos participantes no referido encontro. Só recebi telefonema comunicando-me que eu deveria participar deste. Aliás, recordo que solicitei a participação de meu irmão no Encontro Sr. Ivan Cardoso que no ano anterior foi eleita a Rainha do Encontro, forneci para a organização do encontro os dados necessários para efetivar sua participação, porém me foi informado que o transporte já estava lotado. O que não é verdade, pois tive a oportunidade de fazer a viagem de Belém para Parauapebas sozinho em duas poltronas, só posso lamentar o ocorrido.
Meus caros, minhas caras fico extremamente agradecido se esta minha impressão for divulgada na lista de discussão, pois ultimamente venho sofrendo ataques constantes de pessoas que fazem parte da diretoria e que ainda lamentam minha participação enquanto Coordenador de Proteção à Livre Orientação Sexual na gestão passada do governo, todos realmente já devem estar cansados de saber o que ocorreu, alguns inclusive fazem questão de apagar toda e qualquer ação desenvolvida por tal governo. Aproveito para solicitar a estas pessoas que parem de ficar lamentando o que deixou de ser feito, caso haja ainda este tipo de lamentação sugiro instalarmos dentro da SEJUDH, mais especificamente na Coordenadoria de Proteção à Livre Orientação Sexual um “Mural de Lamentações” aonde possamos de forma clara, objetiva, precisa, apontar aonde erramos, aonde falhamos para que possamos ter a hombridade suficiente de corrigir nossos erros, defeitos e omissões.  Acredito, repito, na força de vontade que temos, de ir para a frente, de sermos respeitados, de sermos considerados seres humanos, de sermos pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais dignos de cidadania plena.
Eis meu relato, caso tenha ofendido, agredido ou alguém tenha se sentido injustiçado com o mesmo antecipo minhas desculpas, mas ao meu ver e de acordo com o que pude acompanhar dentro de minhas limitações estes foram os fatos ocorridos. Aprendi sobretudo a ouvir o outro, atentar para o que estão me dizendo, ser solidário com quem me é querido, ver no outro a possibilidade de uma liderança em potencial, enfim obrigado a Parauapebas e ao Movimento LGBT do Estado do Pará pela oportunidade de vivenciar de perto verdadeiramente o que é termos família, termos direitos no caminho para garantir a cidadania de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. Valeu!!!
Belém – Pa, 14 de julho de 2011.

Fonte: Retirando da Lista de Email's, Por Ivo Cardoso.

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