Mas acima de tudo é preciso ressaltar a luta política do movimento e principalmente os equívocos e preconceitos ainda muito corriqueiros, que levam à uma distorção e banalização do evento. De dentro pra fora, de fora pra dentro!
Por: Fernando Gurjão Sampaio (Um olhar cauteloso, sincero e verdadeiro por via...)
***
Chegamos em casa e descobrimos que a Parada Gay termina justo aqui na Praça
da República.
Primeira coisa: nem sei se é a
Parada Gay, mas foi isso que me falaram.
Segunda coisa: o inferno é aqui.
Na frente da Caixa Econômica rola
uma briga envolvendo umas 50 pessoas. Eles formaram uma roda e a briga rola lá
dentro. Depois de um tempo chegam Guardas Municipais e PMs, a briga termina,
mas a roda segue ali.
Vindo da Riachuelo vem outro grupo
trazendo uma menina desmaiada. Não sei o que ela tem, mas eles parecem
desesperados. Tentam parar um ônibus, que engata e segue em frente quase
atropelando muitos. Param um taxi e tentam convencer o motorista a socorrê-la.
O homem se nega e começam a socar e chutar vidros e lataria. O homem arranca em
alta velocidade. Por fim, param uma van, jogam a menina dentro e partem alguns
com ela. Os que ficam arrumam os cabelos com as mãos e saem gritando e rindo,
já voltando para a festa.
Muitas pessoas no meio da rua. Motos
da GBel passam quase atropelando-os tentando, em vão, fazer o trânsito fluir.
Muita gente porre, mas muito porres,
embriagados mesmo. Todos gritam e fingem brigar e gritam uns com os outros.
Passa uma van e segue muita
correria. Mesma coisa com ônibus. Muita gente querendo chegar em casa, mas
muitos motoristas queimando parada querendo evitar problemas.
Mais uma briga. Uma mulher grita com
um cara que paquerou a namorada dela. Pelo porte da gritante, o cara vai levar
porrada.
Na volta da garagem, um casal transa, acho que transa, numa das
reentrâncias da parede do Basa. É a mesma reentrância na qual as pessoas mijam,
então o cheiro não favorece qualquer romance.
Mais acima, na Carlos Gomes, entre
dois carros estacionados ao lado do Hilton, uma moça gorda urina e ri das
piadas que as amigas, em pé ao lado, contam.
Dobrando a Carlos Gomes na
Presidente Vargas, um taxista do ponto do Basa me reconhece e diz: Dr. tome
cuidado, eles estão loucos, até tiro já rolou. Eu agradeço a preocupação e
sugiro que ele vá mais cedo para casa. Ele aceita ao ver a baderna ao redor da
mijante que mija quase ao lado dele.
Já na frente do prédio passa um
carro com som alto tocando tecnobrega. Segue uma gritaria alucinada e muitas
mãos para cima, alguns tremendo. O carro passa e todos voltam ao normal.
Na portaria, brinco com uma vizinha: só chuva de granizo para dispersar
esse povo. A vizinha responde que não adiantaria, visto a quantidade de vinho
que estão bebendo. O bafo de alcool segue à quentura do asfalto e nos atinge na
portaria.
Isso tudo foram observações, mas
segue uma breve opinião: Ser gay é tão mais do que isso.