10 de julho de 2013

Terruá Pará. Protesto!

A amostra #Terruá Pará de Música em sua 9ª etapa das seletivas que irá selecionar 12 artísticas para festival de música. Foi marcado por protestos de artísticas que fazem teatro, dança, artes plásticas, cinema...da grande metropole de Belém do Pará!

Em um caloroso discurso o diretor e ator Alberto Silva leu a carta/manifesto pontuando os desejos e melhorias para a área da cultura em nosso estado!



O artigo a seguir foi elaborado pelo repórte Anderson Araújo do Jornal O LIBERAL.


Belém é uma cidade de artistas. Confira aí quantos músicos, atores, artistas plásticos, fotógrafos e gente do audiovisual você conhece. É provável que você conte pelo menos um. Eu conheço uma porção.

Contraditoriamente, Belém é também uma cidade que não é raro ouvir por aí "não tem nada pra fazer nessa cidade". Uma penca reclamando de falta de programações culturais e toda uma cultura de divertimento e distração baseada em dois verbos: sair e beber. O belenense enche cada vez mais a cara para se desligar da rotina estressante de trabalho, porque os bares, aos trancos e barrancos, continuam sendo um espaço minimamente democrático de refúgio.

Mas se Belém tem tantos artistas por que não tem uma vasta programação cultural? Por que nos últimos anos não surgiram espaços públicos para serem efetivamente usados? Por que aqui não há programações regulares ao ar livre como a gente vê Brasil afora, como no Parque do Ibirapuera em São Paulo? Por que os nossos artistas, que são tantos e de boa qualidade, dificilmente conseguem promover grandes eventos por conta própria? Por que a periferia é estigmatizada pela violência e não pela produção de arte? É normal que seja assim, adolescentes negros ou pardos e pobres se matando entre si?

As perguntas são muitas e poderiam ocupar todo esse post. Já as respostas começaram a boiar ontem justo na menina dos olhos em promoção artística do Governo do Estado, a Mostra Terruá, sintomaticamente produzida pela Secretaria de Comunicação Social e não pela Secretaria de Cultura. Um grupo expressivo e representativo de artistas tomou o palco do Teatro do Centur em uma invasão histórica para meter o dedo na ferida de quem deveria estimular a produção de cultura no Pará, mas não o faz.

As reclamações são conhecidas. Tão conhecidas que já estão empoeiradas, já fizeram aniversário: democratizar os bens culturais e parar de gastar dinheiro com eventos, mas sim promover a cadeia produtiva da cultura no Estado; incluir os artistas nos órgãos que deliberam verbas para o setor; reformular as leis de incentivo que beneficiam muito mais as empresas do que a classe; dar acesso a espaços nobres, como os teatros, para que os artistas possam apresentar seus trabalhos; enfim, fazer políticas culturais que sejam para todos e não para uns poucos.

O diretor e ator Alberto Silva leu a carta tremendo de comoção e teve um coro grande atrás com gente do naipe de Edyr Augusto, Zê Charone, Danilo Brachi, Edmar Souza, Lívia Conduru, Adriano Barroso e tantos outros que não estão nessa estrada há pouco tempo. São artistas que vivem da sua arte ou equilibram seu tempo para não se afastar dela. São pessoas que tem qualidade pelo trabalho que fazem, muitos premiados e escolhidos em editais públicos nacionais, muitos empreendedores que tiveram que construir seus próprios espaços para se apresentar como artistas. Não era qualquer um. Não eram aproveitadores.

Foi um ato de coragem invadir o Terruá e invadir da forma que foi invadido. A simpaticíssima e democrática Beth Dopazzo até ofereceu um espaço no começo da programação para eles falarem, mas eles sabiamente fizeram cara de paisagem, como se o assunto não fosse com eles. Era o Estado oferecendo um naco dentro da programação oficial "para os artistas que queriam protestar". Protesto agendado não é protesto. Quando Dopazzo achou que estava tudo bem, a turba invadiu com suas faixas: "Chega de ópera e Terruá: democratizar a cultura já" e "Não vou sair, tá mal aqui, mas vai mudar".

Deram o seu recado e foram aplaudidos e complementados pela plateia, que se sentiu à vontade para gritar inclusive "tem que acabar a panelinha do governo". Dopazzo ao final, sem entender bem a movimentação, falou que o Terruá é uma mostra feita através de edital público, o que é totalmente verdade. Ficou parecendo que os manifestantes eram uns recalcados, só pra usar uma palavra da moda.

Mas será que o protesto foi contra o Terruá?

Não foi.

Não foi porque bem ou mal a Secom está fazendo seu trabalho e até tomando para si uma tarefa que deveria ser da Secult. O que não impede de o Terruá ser neste
momento o melhor espaço para chamar atenção para os problemas da cultura na cidade. O ato de subir ao palco e ler uma carta com reivindicações, de fato, foi muito mais uma convocação aos injustiçados, aos insatisfeitos, aos humilhados do parque e os que ficaram de fora da festa.

Quem diz que os artistas erraram o endereço do protesto não entende nada do que está acontecendo. Não entende que esse momento é um momento de organização e de chamar quem não concorda com o que está posto para ingressar na horda de bárbaros formada há pelos menos 20 anos na sombra de um Estado sem uma política pública decente. Além do mais, a Secult está tão paralisada e letárgica que é difícil ter um evento do porte do Terruá feito por ela onde se possa invadir. Invadir a Feira do Livro? Invadir o Festival de ópera? São ideias, mas no momento o que se tinha era um Terruá transmitido ao vivo. Foi invadido e se quem esteve presente no Teatro não ouviu o clamor lá fora, depois da saíde, eu ouvi. E o clamor não apontava o secretário de Comunicação, mas o senhor Paulo Chaves, o capo da Secult.

Apesar das divergências, da vaidade própria da função, da falta de organização de anos, os artistas deram sim um bom exemplo de como cobrar por melhorias a sua categoria e por extensão à sociedade como um todo. Agora sabemos que não é um trabalho fácil, nem rápido, nem longe de tensões entre governo do estado, prefeitura e governo federal e dentro do movimento organizado de artistas. Um consenso sobre o que se deve ser feito com o grosso caldo de cultura do Pará, fermentado na veia de quem dá a vida pela arte, é necessário, mas não nascerá da noite pro dia.

Sugiro que os someliers de protesto saiam de suas cadeiras e ajudem o pessoal indo às reuniões e às reivindicações, colocando suas ideias pro debate. Não gostou que falem do Festival de Ópera e do Terruá? Acha que o alvo foi errado? Vá lá debater coletivamente e abone um segundo o universo umbiguístico que lhe cerca. É o mínimo que você pode fazer. O mínimo!

Eles convocaram uma nova reunião no Espaço Cuíra, às 17h, na quinta-feira. Vão lá se vocês tiveram coragem e alguma disposição.

Que haja mais protestos ainda. Que a Secult, a Fumbel e o Ministério da Cultura respondam as demandas e que Belém possa ser uma cidade oxigenada pela única energia que ainda pode varrer esse baixo astral que estacionou por aqui: a arte.

Pra quem estava esperando o carnaval chegar: tire a bunda da cadeira, deixe de reclamar em mesa de bar.

O carnaval chegou.






Artigo: Anderson Araújo
Comentário e Fotos: Jorge Anderson

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