14 de julho de 2013

Estresse expiatório de segurança privada.

*Sobre um honório caso de perturbação social causado pelo estresse expiatório de segurança privada. Numa escravidão moderna do século XXI. \O/!



Por: Fernando Gurjão Sampaio (Via facebook)
Autorizado.

Hoje, sábado, eu e minha mãe resolvemos ir ao Shopping Boulevard fazer pouca coisa e coisa rápida. Eu compraria algo que já havia escolhido, ela trocaria um anel.
Já na chegada, no subsolo do shopping, minha mãe avista uma vaga reservada para idosos. Como ela é idosa, seus 67 anos bem vividos, me pediu para estacionar ali.
Já na embicada do carro percebi um homúnculo segurança, ou orientador de estacionamento, o qualquer coisa do gênero, se dirigindo com olhar raivoso na minha direção.
Como só me via, não via minha mãe ao lado, esperei a informar sobre a vaga reservada, o que de fato aconteceu, mas não bem da forma que eu pensava. Quase em grito ele falou: "Essa vaga é para idoso!" Tentando não me irritar com o tom grosseiro do senhor, informei: "Estou com uma idosa aqui."
Desconfiado, ainda com cara de poucos amigos, o homem botou a cara pela janela e, ao verificar que de fato havia uma idosa, resolveu me sair com essa: "Mas a vaga de idoso só pode ser ocupada por idosos cadastrados na prefeitura, com licença e adesivo no carro!!"
O homem teve tanta certeza do que disse que até pensei, por um segundo, "droga, to errado..." Mas não, eu não estava errado!!!  Eu estava com uma idosa no carro, numa vaga reservada para idosos de acordo com o Estatuto deles... Além disso, a sempre falar mais alto, a real condição de idosa da minha mãe facilmente comprovada por qualquer documento.
Enquanto o homem berrava e eu pensava, resolvi pedir um "com licença" e fechar o vidro, e assim fiz. Estacionei bonitinho, ainda com o homem ao lado do carro decidido a não me deixar estacionar ali.
Já fora do carro, ainda escutando a ladainha grosseira de que não poderia estacionar ali se não tivesse registro na prefeitura, licença e adesivo no carro, o homem me solta mais uma boa: “o senhor não está com um idoso e só pode deixar o carro nestas condições”.
Já bastante irritado, perguntei se ele me chamava de mentiroso, se eu realmente não estava com uma idosa, mas ele não respondeu e continuou a falara sobre as tais condições. Respondi que a vaga de idoso é prevista no Estatuto do Idoso, é benefício de lei e que nada pode estar acima disso, muito menos autorização de prefeitura e adesivo, ou mesmo a tal absurda licença. Por fim, resolvi completar dizendo que sabia do que estava falando, pois era advogado e estava estudando isso ontem de noite mesmo.
Aí degringolou... Ao ouvir que eu era advogado, o bom homem respondeu: "É um otário!"
Parti para cima do homem, mas só consegui dar um empurrão bem dado... Antes que pudesse notar, o homúnculo segurança já havia corrido mais do dez Bolts, o que me fez parar para pensar na falta de políticas públicas voltadas para o esporte no Brasil. Quantos talentos desperdiçados e ali estava um deles. Num piscar de olhos o fulano já estava longe.
Nestas horas são engraçadas as frases de efeito que surgem: "Tu és homem para me chamar do otário, mas não é homem para aguentar as consequências?" eu gritei frase digna de qualquer Os Mercenários das locadoras.
Caladinho, o cara resolver voltar na nossa direção, mas dessa vez colocou a mão na cintura como fazendo menção de sacar uma arma. Novamente os pensamentos... "MEFU, agora vou levar um tiro, tudo por causa de uma vaga de idoso", e mais preocupado ainda fiquei quando vi minha mãe se colocar na minha frente para evitar o que ela também achava que era tiro.
Mas ele não estava armado, era só um blefe, acho que tentativa de nos fazer correr e se safar da situação. E como não corremos, e como ele não estava armado, continuou de longe gritando um bando de coisas que nem lembro agora. Enquanto isso minha mãe gritava: "Tu estás armado??? Tu vais atirar no meu filho???"
Ele então se lembrou do rádio e começou a chamar a patota dele - ou o que ele achava ser a patota dele. Chamou deus e o mundo, meia dúzia de solicitações de resgate, pois estava sendo agredido por um cliente (Como, se ele não parava quieto e corria mais do que eu!?).
Minha mãe, já chateada, me pegou e pediu para irmos embora, mas eu realmente queria ver o que faria o reforço chamado por aquele cara-pálida. Nisso o homúnculo vinha se aproximando, mas ainda ressabiado, e com os pés virados que nem um curupira, pronto para correr se fosse necessário. Mais uma vez eu afirmei: "Vou ficar aqui, quero ver o que vão fazer comigo! Não sou bandido!!"
Aí o bonito soltou outra pérola: "tu és uma besta!"...
Agora sim... Agora sim eu ia caçar aquele homem no céu e na terra... Ele podia correr mais do que eu, mas eu ia conseguir pegá-lo e brigar com ele, coisa de machão mesmo brigando na rua, estava nem aí, cabeça já quente sendo ofendido e desrespeitado sem nenhuma razão... E quando me preparei para pegar impulso... E quando ele já corria longe diante da minha ameaça... Um braço me segura sem grosseria, nem nada, e de forma gentil e calma me fala: "Senhor, não faça isso. O senhor tem toda a razão, mas não faça isso."
Era o supervisor do cheiroso, logo vi pela roupa. Enquanto ele fala isso, gritava em pleno pulmão para o fulano sumir e calar a boca, para voltar para a base e calar a boca, mas o fulano não fazia isso. Mais me xingava de otário, de covarde e de idiota.
Chegaram mais seguranças, mais supervisores, mais senhores de paletó e mais segurança, e nem sabia que havia tanto segurança assim no Shopping Boulevard...
Com sua patota lá, ou o que ele achava ser sua patota, misteriosamente o fulano mudou de atitude e quis partir para quebrar minha cara perguntando se eu era homem para tentar bater nele - mas aí já tinham três seguranças... Segurando a ele, então não consegui entender bem a efetividade daquela valentia. Quando não tinha ninguém para segurá-lo, ele corria de mim; quando tinha gente para segurá-lo, ele se jogava que nem onda em rochedo... Vai entender.
Por fim, "elas estão descontroladas!": o cara gritava, falava mal,  me chamava para porrada e tudo o mais, tudo em bem pensada contenção dos três seguranças... Ainda tentei ir lá pegar ele, mas um segurança também me barrou a passagem, mas realmente de forma bem educada.
No final, tinha tanta gente o mandando calar a boca e voltar para a base, acho que era base, mas ele estava tão descontrolado, que um dos seguranças meio que deu um mata-leão no amigo e levou ele dali.
Tenho minhas restrições com o Boulevard, e basta citar minha afilhada atingida na cabeça por uma grade de ventilação e despachada pela administração do Shopping com um ovo de Páscoa e o "do táxi" - ao menos houve a oferta descabida.
E apesar de ser um preposto do shopping que fez tudo aquilo, os demais senhores que chegaram foram extremamente educados e solícitos. Um deles, ao menos, via parte de situação e relatava aos demais sobre o erro do destemperado. Pediram desculpas, mil desculpas na verdade, e explicaram que não podem ser punidos pelo erro de um desequilibrado - apesar de que podem sim. Ofereceram-me gratuidade no estacionamento, mas deixando bem claro que não era uma forma de resolver as coisas ou de me agradar, mas somente para mostrar sua boa-fé...
Pois bem... Depois das mil desculpas, seguidas de mais duas mil desculpas, fomos acompanhados até quase metade do shopping por um dos engravatados, sempre bastante educado e envergonhado pelo acontecido.

Disso tudo, algumas lições:
1. Senhores lojistas - treinem seus funcionários! Isso pode significar mais gastos e menos lucros, mas evita tantos problemas... Acreditem!!!  Como pode um shopping como Boulevard, "o melhor de Belém", permitir que um sociopata cuide do estacionamento e trate com clientes. Lembrem-se do Chico Buarque e seu Ministério do Vai dar Merda. Não custa nada.
2. Minha mãe precisa saber envelhecer!!!  Que história é essa? Quase 70 e quase sem rugas? Sem cabelos brancos aos 67 anos!!!?? Não Pode!!!!  Minha mãe precisa urgentemente se entravar, usar bengala e embranquecer os cabelos... E ter mais rugas, da forma que for, nem que seja por meio de plásticas. Velha abusada!!!

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