*Sobre um honório caso de perturbação social causado pelo estresse expiatório de segurança privada. Numa escravidão moderna do século XXI. \O/!
Por: Fernando Gurjão Sampaio (Via facebook)
Autorizado.
Hoje, sábado, eu e minha mãe
resolvemos ir ao Shopping Boulevard fazer pouca coisa e coisa rápida. Eu
compraria algo que já havia escolhido, ela trocaria um anel.
Já na chegada, no subsolo do
shopping, minha mãe avista uma vaga reservada para idosos. Como ela é idosa,
seus 67 anos bem vividos, me pediu para estacionar ali.
Já na embicada do carro percebi
um homúnculo segurança, ou orientador de estacionamento, o qualquer coisa do
gênero, se dirigindo com olhar raivoso na minha direção.
Como só me via, não via minha mãe
ao lado, esperei a informar sobre a vaga reservada, o que de fato aconteceu,
mas não bem da forma que eu pensava. Quase em grito ele falou: "Essa vaga
é para idoso!" Tentando não me irritar com o tom grosseiro do senhor,
informei: "Estou com uma idosa aqui."
Desconfiado, ainda com cara de
poucos amigos, o homem botou a cara pela janela e, ao verificar que de fato
havia uma idosa, resolveu me sair com essa: "Mas a vaga de idoso só pode
ser ocupada por idosos cadastrados na prefeitura, com licença e adesivo no
carro!!"
O homem teve tanta certeza do que
disse que até pensei, por um segundo, "droga, to errado..." Mas não,
eu não estava errado!!! Eu estava com
uma idosa no carro, numa vaga reservada para idosos de acordo com o Estatuto
deles... Além disso, a sempre falar mais alto, a real condição de idosa da
minha mãe facilmente comprovada por qualquer documento.
Enquanto o homem berrava e eu
pensava, resolvi pedir um "com licença" e fechar o vidro, e assim
fiz. Estacionei bonitinho, ainda com o homem ao lado do carro decidido a não me
deixar estacionar ali.
Já fora do carro, ainda escutando
a ladainha grosseira de que não poderia estacionar ali se não tivesse registro
na prefeitura, licença e adesivo no carro, o homem me solta mais uma boa: “o
senhor não está com um idoso e só pode deixar o carro nestas condições”.
Já bastante irritado, perguntei
se ele me chamava de mentiroso, se eu realmente não estava com uma idosa, mas
ele não respondeu e continuou a falara sobre as tais condições. Respondi que a
vaga de idoso é prevista no Estatuto do Idoso, é benefício de lei e que nada
pode estar acima disso, muito menos autorização de prefeitura e adesivo, ou mesmo
a tal absurda licença. Por fim, resolvi completar dizendo que sabia do que
estava falando, pois era advogado e estava estudando isso ontem de noite mesmo.
Aí degringolou... Ao ouvir que eu
era advogado, o bom homem respondeu: "É um otário!"
Parti para cima do homem, mas só
consegui dar um empurrão bem dado... Antes que pudesse notar, o homúnculo segurança
já havia corrido mais do dez Bolts, o que me fez parar para pensar na falta de
políticas públicas voltadas para o esporte no Brasil. Quantos talentos desperdiçados
e ali estava um deles. Num piscar de olhos o fulano já estava longe.
Nestas horas são engraçadas as
frases de efeito que surgem: "Tu és homem para me chamar do otário, mas
não é homem para aguentar as consequências?" eu gritei frase digna de
qualquer Os Mercenários das locadoras.
Caladinho, o cara resolver voltar
na nossa direção, mas dessa vez colocou a mão na cintura como fazendo menção de
sacar uma arma. Novamente os pensamentos... "MEFU, agora vou levar um
tiro, tudo por causa de uma vaga de idoso", e mais preocupado ainda fiquei
quando vi minha mãe se colocar na minha frente para evitar o que ela também
achava que era tiro.
Mas ele não estava armado, era só
um blefe, acho que tentativa de nos fazer correr e se safar da situação. E como
não corremos, e como ele não estava armado, continuou de longe gritando um
bando de coisas que nem lembro agora. Enquanto isso minha mãe gritava: "Tu
estás armado??? Tu vais atirar no meu filho???"
Ele então se lembrou do rádio e
começou a chamar a patota dele - ou o que ele achava ser a patota dele. Chamou
deus e o mundo, meia dúzia de solicitações de resgate, pois estava sendo
agredido por um cliente (Como, se ele não parava quieto e corria mais do que
eu!?).
Minha mãe, já chateada, me pegou
e pediu para irmos embora, mas eu realmente queria ver o que faria o reforço
chamado por aquele cara-pálida. Nisso o homúnculo vinha se aproximando, mas
ainda ressabiado, e com os pés virados que nem um curupira, pronto para correr
se fosse necessário. Mais uma vez eu afirmei: "Vou ficar aqui, quero ver o
que vão fazer comigo! Não sou bandido!!"
Aí o bonito soltou outra pérola:
"tu és uma besta!"...
Agora sim... Agora sim eu ia
caçar aquele homem no céu e na terra... Ele podia correr mais do que eu, mas eu
ia conseguir pegá-lo e brigar com ele, coisa de machão mesmo brigando na rua, estava
nem aí, cabeça já quente sendo ofendido e desrespeitado sem nenhuma razão... E
quando me preparei para pegar impulso... E quando ele já corria longe diante da
minha ameaça... Um braço me segura sem grosseria, nem nada, e de forma gentil e
calma me fala: "Senhor, não faça isso. O senhor tem toda a razão, mas não
faça isso."
Era o supervisor do cheiroso,
logo vi pela roupa. Enquanto ele fala isso, gritava em pleno pulmão para o
fulano sumir e calar a boca, para voltar para a base e calar a boca, mas o
fulano não fazia isso. Mais me xingava de otário, de covarde e de idiota.
Chegaram mais seguranças, mais
supervisores, mais senhores de paletó e mais segurança, e nem sabia que havia
tanto segurança assim no Shopping Boulevard...
Com sua patota lá, ou o que ele
achava ser sua patota, misteriosamente o fulano mudou de atitude e quis partir
para quebrar minha cara perguntando se eu era homem para tentar bater nele -
mas aí já tinham três seguranças... Segurando a ele, então não consegui
entender bem a efetividade daquela valentia. Quando não tinha ninguém para
segurá-lo, ele corria de mim; quando tinha gente para segurá-lo, ele se jogava
que nem onda em rochedo... Vai entender.
Por fim, "elas estão
descontroladas!": o cara gritava, falava mal, me chamava para porrada e tudo o mais, tudo em
bem pensada contenção dos três seguranças... Ainda tentei ir lá pegar ele, mas
um segurança também me barrou a passagem, mas realmente de forma bem educada.
No final, tinha tanta gente o
mandando calar a boca e voltar para a base, acho que era base, mas ele estava
tão descontrolado, que um dos seguranças meio que deu um mata-leão no amigo e
levou ele dali.
Tenho minhas restrições com o
Boulevard, e basta citar minha afilhada atingida na cabeça por uma grade de
ventilação e despachada pela administração do Shopping com um ovo de Páscoa e o
"do táxi" - ao menos houve a oferta descabida.
E apesar de ser um preposto do
shopping que fez tudo aquilo, os demais senhores que chegaram foram
extremamente educados e solícitos. Um deles, ao menos, via parte de situação e
relatava aos demais sobre o erro do destemperado. Pediram desculpas, mil
desculpas na verdade, e explicaram que não podem ser punidos pelo erro de um
desequilibrado - apesar de que podem sim. Ofereceram-me gratuidade no
estacionamento, mas deixando bem claro que não era uma forma de resolver as
coisas ou de me agradar, mas somente para mostrar sua boa-fé...
Pois bem... Depois das mil
desculpas, seguidas de mais duas mil desculpas, fomos acompanhados até quase
metade do shopping por um dos engravatados, sempre bastante educado e
envergonhado pelo acontecido.
Disso tudo, algumas lições:
1. Senhores lojistas - treinem
seus funcionários! Isso pode significar mais gastos e menos lucros, mas evita
tantos problemas... Acreditem!!! Como
pode um shopping como Boulevard, "o melhor de Belém", permitir que um
sociopata cuide do estacionamento e trate com clientes. Lembrem-se do Chico
Buarque e seu Ministério do Vai dar Merda. Não custa nada.
2. Minha mãe precisa saber
envelhecer!!! Que história é essa? Quase
70 e quase sem rugas? Sem cabelos brancos aos 67 anos!!!?? Não Pode!!!! Minha mãe precisa urgentemente se entravar,
usar bengala e embranquecer os cabelos... E ter mais rugas, da forma que for,
nem que seja por meio de plásticas. Velha abusada!!!